quarta-feira, 2 de junho de 2021

O fim do poema


Não tenho mais poesia. Enfim, literal. Uma escrita apática, antes sombria. Apenas fosca. Foram os anos, os desamores, os dissabores. As perdas, os danos, os enganos. Não sei. A poesia virou um cinzeiro abarrotado e amanhecido. Um mofo de pão. Uma casca de qualquer coisa que já não serve. Vocês venceram! Já não há mais olhos marejados, nem mariposas estomacais. Apenas uma acidez assídua e vencedora. Não há mais sequer um resto, restolho, restinho, de nada. Só embrulho, entulho. Cascalhos de palavras chutadas. Não me peça mais para escrever, exija qualquer outra coisa. Um tapa na cara, um gole de cachaça, me mande para aquele lugar, mas poesia, nunca mais.