quinta-feira, 8 de abril de 2021

Ressaca

Dentro dela há
Um emaranhado

Corpos, vírus e cheiros
Coquetelados
Em tempos ainda mais difíceis
Que os de Amélie

Alcoolizados pela inspiração
Que vem do estrago
Ou da crença na volta do afeto

Dentro dela há
Uma maldição

Mais sina que acaso
Mais acaso que escolha
Mais cachaça que ego

Dentro dela há
Infinitas tentativas de dizer não

Esse lugar que não acaba


O coração
Invadido pelas beiradas
Atacado pelas fronteiras

O tempo
Quase muito cedo
Quase muito tarde

O corpo
Infestado de língua
Ocupado pelas manhãs

A paixão
Concedida à força
Intromissão desejada

E eu legislada tentando sair desse lugar
Carcomido e alheio ao coração, ao tempo e ao corpo