Não pensar é uma arte.
A arte de esquecer só um naco, um lapso, um pouco. Não pensar é um
subterfúgio que devolve o sorriso, ainda que breve. E nesse intervalo entre o pensar e o “não” é que
a vida acontece. Não pensar é o amanhecer que vai acordando com a fronha mais
seca das lágrimas da saudade. São os olhos que deixam de enxergar em preto e
branco e a cada piscada pintam uma tela de possibilidades. Esquecer não é não
pensar. Esquecer implica em enterrar o pensamento e torcer para que a memória
involuntária não nos presenteie com o tempo perdido num domingo de manhã. Não
pensar é a esperança do esquecer. É um espaço onde a angústia dá trégua para o
desejo descansar. Um lugar onde o sabor e os aromas da lembrança permitem que
se prove de outro tempero, ainda que azedo, ainda que cure.
Ana Oliveira
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