sábado, 23 de junho de 2018

Glossolália

Desde março não escrevenho
Não reamarelo os dedos
Nada me escorre pelo canto da boca
Não respiro pelo abdômen
Nem homem, nem moçassinto
Desde abril não vejo escova
Não cheiro acetona, alcoolizo
Nada me ocorre no estômago
Nem o amor, nem ânsiasia
Não solfejo nem vejo sol
Desde maio não comovento
Não derramo estranhezas
Nada me gasta a desvida
Nem a dor nem a bebida
Não vejo a hora de agostar

Ana Oliveira