terça-feira, 16 de outubro de 2018

Mutação

A amargo azedou o doce.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

sábado, 23 de junho de 2018

Glossolália

Desde março não escrevenho
Não reamarelo os dedos
Nada me escorre pelo canto da boca
Não respiro pelo abdômen
Nem homem, nem moçassinto
Desde abril não vejo escova
Não cheiro acetona, alcoolizo
Nada me ocorre no estômago
Nem o amor, nem ânsiasia
Não solfejo nem vejo sol
Desde maio não comovento
Não derramo estranhezas
Nada me gasta a desvida
Nem a dor nem a bebida
Não vejo a hora de agostar

Ana Oliveira



quinta-feira, 1 de março de 2018

Aos abalos e remendos

















Estou sempre a remendar a vida
Parece que meu lugar no mundo
É fora dele. À parte. Ao lado.
É isso! Meu lugar no mundo
É à margem desta vasta esfera
Onde mais vasto é o meu coração
Talvez o deserto seja o meu lugar
Inóspito, frio, imenso
O mesmo deserto que decerto vive
Dentro dessa imensidão de pessoas
Que se desencontram no aglomero
De seus pensamentos
É que o inferno somos nós
E o problema não é a multidão
Mas ter que fugir da gente
Somos perseguidores de nós
Talvez a escolha fosse parar de fugir
E voltar para o útero da terra
Ou buscar a gente n’alguma profundeza
Em alguma cova ancestral
Nesses lugares escuros, cheios de bichos
Nenhum mais cruel do que aqueles
Que carcomem a alma
Amiga, a vida só é aceitável na arte
De resto são libertamentos
Que só as lápides podem nos dar
A arte anda a contemplar
Transeuntes apressados
A procurar de dor
Amiga, ao contrário de morrer,
Viver dói todo dia.

Ana Oliveira

Referência imagem: https://bokja.wordpress.com/2013/04/08/migration-stories/

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Em caso de liberdade, quebre o vidro.


No quadro que mora na parede
Há uma bailarina

No quadro que mora na parede
Há uma bailarina morta

Morta de saudade...
Morta de desejo...
Morta de vontade de sair de dentro do quadro

E dançar!

Ana Oliveira