domingo, 5 de novembro de 2017

Análise do poema “Tem país na paisagem? ” de Marília Garcia


A poesia de Marília Garcia, da forma como ela mesma apresenta, parece ser parte de um momento único. Ela me remete logo a duas imagens: a do movimento e da fragmentação. O poema escrito parece dançar sobre as páginas da maneira como está disposto, com linhas irregulares e soltas, que ganham vida e parecem se deslocar por conta própria. Na oralidade também é possível identificar esse movimento, mas agora pelo ritmo e pela entonação que a poeta dá ao texto.

Minha impressão é de uma poesia orgânica, viva e, que talvez por trazer tanto o texto narrativo, quanto o descritivo, parece imitar o ritmo do nosso cotidiano, em que ora narramos, ora descrevemos e ora silenciamos. Os silêncios também aparecem fortemente na poesia de Marília. E a eles, atribuo um papel preponderante, uma vez que fragmentam as imagens de tal maneira que somos nós, os leitores, que preenchemos esses vazios. Marília parece silenciar para construir a próxima imagem, como num respiro, para poder pensar em suas experiências já que sua poesia, apesar de parecer simples, é uma engenhosa construção arquitetônica. 

A poeta parece ver poesia nas pequenas coisas, e assim como em Manuel de Barros, é o ínfimo, o infraordinário que lhe interessa. Ao narrar e descrever o experimento do “desenho das lágrimas” de Rose-Lynn Fisher, Marília nos presenteou com uma imagem que pode tranquilamente passar despercebida, mas que através de seu olhar, torna-se poética. 

Percebo, nas duas imagens, que cito anteriormente, uma íntima relação entre elas, já que no movimento, se colocado em câmera lenta, é possível perceber a fragmentação, quadro-a-quadro. Esse me parece ser o ritmo de Marília, uma série de movimentos que, ao se deslocarem, preenchem nosso imaginário com pequenas memórias fragmentadas, ou de vazios a serem preenchidos.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=CG-nTXqS9Ek&t=4958s

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