quinta-feira, 12 de outubro de 2017

No meio do caminho de Drummond


No caminho de Drummond provavelmente houve muitas pedras. A pedra primeira guerra mundial já presa em suas sandálias infantis, aos doze anos. A pedra solidão, dita e redita em seus poemas, a pedra Deus e a dura sina de ora crer, ora duvidar. A pedra “um mineiro no Rio de Janeiro” e tantas outras pedras de tantos outros conflitos bélicos, quentes ou frios, vividos pelo poeta no Séc. XX.

Embora o poema No meio do caminho tenha sido renegado pela crítica ao dizerem que “aquilo não era poesia e sim uma provocação”, ou ainda que eram “versos pobres e repetitivos” a pedra para Drummond não fora apenas essa ou aquela conjectura leviana. Esta é a pedra drummondiana do obstáculo, seja dos seus próprios conflitos com o mundo e a sociedade em que viveu, seja no próprio – e talvez intencional – poema obstáculo, criado exatamente para esse fim.

O poema fora escrito em 1928, e Drummond, ao escrevê-lo, parece ter adivinhado o futuro nebuloso do planeta, como um profeta da pedra, um “bruxo do obstáculo” já que pouco depois estouraria a segunda grande guerra e em seguida, os duros anos de ditadura no Brasil. Já escrito, o poema parece anunciar um tempo de dor, tempo das retinas fatigadas pela brutalidade das torturas impostas e as feridas expostas de seus companheiros políticos, seus amigos, cujo o único pecado fora acreditar mais na flor do que no asfalto.

Assim como o poeta, também temos nossas pedras. Nossos impedimentos não são diferentes dos de Carlos. Somos Carlos, Marias, Reginas e Pedros incompreendidos, renegados, subestimados. E assim como ele, o Carlos poeta, na maioria das vezes, jamais esqueceremos.

Chapecó, 28/09/2017.

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