segunda-feira, 27 de março de 2017

Para os bons dias mortos

nosso bom dia que morreu
ao cair da tarde
levou também os cafés
e os ovos mexidos
levou a cara amassada
das noites que partiram
sem aviso prévio
levou o abraço da manhã
que não se sabia última
e por isso não tivera
um jeito de adeus
levou também os medos
mas trouxe as angústias
que são medos tristes
levou a canção das terças
sobre ficar bem pra cuidar mais
e o almoço dos domingos
atrasado mas cheio de risos
o bom dia que era nosso
agora vive no vazio das horas
que levaram os sonhos
as madrugadas e a paz
de estar em par

Ana Oliveira

segunda-feira, 13 de março de 2017

Beijo-poema

Roubo tuas palavras
E as penduro em meus lábios
Não suporto mesmo é não sentir
Esse teu beijo-poema
Nem saber como é viver sem
Aquele que desordena
Mas mantém a alma acordada

Ana Oliveira


sexta-feira, 10 de março de 2017

Cuanto a los besos

Robo las palabras tuyas
Y las colgo en mis lábios
No soporto mismo es no sentir
Eso beso bienvenido
Ni saber como es vivir sin
Aquel que desordena
Pero mantiene la alma despierta

Cuanto al dolor


Robo las palabras tuyas
Y las colgo en mis lábios
No soporto mismo es no sentir
Ese dolor bienvenido
De saber como es vivir sin
Aquella que despedaza
Pero mantiene la alma despierta

Las mariposas

(Tradução)

Roubo suas palavras
E as penduro em meus lábios
Não suporto mesmo é não sentir
Essa dor bem-vida
De saber como é viver sem
Aquela que dilacera
Mas mantém a alma acordada

quinta-feira, 9 de março de 2017

Cadáver poético

a poesia é a dissecação da alma
redenção mas também maldição
acomete o poeta de palavras
que adoece ao não cuspi-las
é a cura do verbo
e a ruína da carne

Anna Poulain

Rodopiando solidão


Se vive morta
De saudade
A bailarina
Dança dentro do quadro

Rodopiando solidão
De ponta em ponta
Desaponta o ritmo
Da multidão 

Sabe que a dor 
Sempre aparece
Pra cortar dedos e laços 

Por isso dança 
Se joga pra fora do quadro
E do coração

Ana Oliveira

A volta do flamingo

Há tantas gaiolas
Apáticas, vulneráveis
Azedas de amargar
Forjadas a fel
Feitas pra arrasar o tempo
Estragar a festa
Misturadas com o vazio
Impotente e surdo
Carcomido de inveja
Da vida que deságua
Pronta para teimar
E levar incertezas
Pra longe da gente
Há tantos medos
Disfarçados de vento
Levam a alma
De asas já cortadas
Cobertas pelo véu da noite
Que o flamingo traz de volta
Pois alma não se ajoelha
Volta de manhã
Pra fazer o café

Ana Oliveira

quinta-feira, 2 de março de 2017

A borboleta branca

Te sinto desordenado. Por tudo que deve estar vivendo neste instante pássaro. Sem gaiola nem amarras, sem convenções nem exigências. Te vejo no olho de um ciclone chamado vida tentando agarrar as coisas que aos poucos te deixaram, que aos poucos se perderam, como se ao mesmo tempo quisesse abraçar e soltar. Eu acho tudo isso lindo e louvo! Só que no meio dessa bagunça ainda não consegui me ver. E tenho meu fluxo. Tenho meu porto cá bem definido. Eu até gosto do estrago, mas o do amor vivido, consumido, das mordidas e joelhos arranhados. É nesse poço que me jogo. Do outro, aquele sem fundo, prefiro o sossego. Porque solidão é sossegar. Solidão é como o voo da borboleta branca que de tão imensa vira pássaro só pra voar pra mais longe. Ainda não te sinto solidão. Te vejo como uma gaveta amontoada de memórias que querem ser guardadas, só que ainda não. Precisam da vastidão do tempo e de mais espaço. E talvez de outras histórias, não para substituir, mas para serem vividas. Te vejo perdido e não quero ser a engrenagem que falta, mas a vela que ilumina.