terça-feira, 15 de março de 2016

Gaveta



Eu finjo que amo outras coisas para compensar a dor dos olhos que amanhecem diariamente sem saber dos teus. Invento felicidades que precisam ser numerosas para compensar o vazio de um único abraço. O sono que me contempla com tua ausência é o mesmo que se faz carrasco das horas e horas a mais que sobram para imaginar outro desfecho de nós, outro começo. O esforço que faço para disfarçar só não é maior que o ímpeto de sair voando para dentro do teu mundo, ainda que nele exista para mim, somente uma gaveta. Sei que as linhas da tua vida são menos tortas que as minhas, que passamos por promessas e enganos e que nosso tempo foi curto e ao revés. Cansei de trocar o fim pelos inícios, de me perguntar se ser nada é o começo de ser tudo ou se a verdade é a mistura do meu universo inventado e do teu ouro de tolo.

Ana Oliveira

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