Hoje,
ao acordar, chovia. Não aquelas gotas cinza-gelo dos dias que lá
fora, proclamam a chegada do outono, mas aqui dentro. Ao abrir os
olhos, vi uma nuvem grudada no teto da minha casa e outra alojada no
meio do meu peito. Então esperei que chovessem braços, que deles
viessem mãos e delas surgissem afagos capazes de arrancar esse
cansaço que a alma chama de saudade. Desejei que o chão revirado
pela enxurrada se abrisse e raízes macias com cheiro de terra
molhada subissem em minhas pernas, emaranhadas como um abraço deve
ser, firme e recíproco. Mesmo com medo, ansiei que um vendaval com
nome de moço chegasse, anunciado por uma brisa quente e que logo depois,
fizesse meu coração levantar voo junto aos móveis e sonhos, num
insano e mágico arrebatamento. Ao acordar, implorei ao vento para que abrisse meus olhos grudados pela chuva e pela dor de um sentir
sujeito a morrer seco, sem palavras, desesperado e só. Porque até
para maldizer o amor, tem que amar.
Ana Oliveira
Ana Oliveira
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