quarta-feira, 23 de março de 2016

Sorvete de banana

Que mundo é o teu, meu bem?
O de honrados mestres reais?
Que giram espadas e palavras voadoras
Rumo ao nascer do sol da mente?

Que tempo é o teu, menino?
O de aparar as arestas, espiar entre frestas
O branco doce da pele, que impele
Assusta a alma que desenha na palma?

Que desejo é o teu, amor?
De entender o que o sábio omite, resiste
Abraçar as páginas do universo
Pra só então alforriar a dor?

Ana Oliveira


sexta-feira, 18 de março de 2016

La pequeña muerte de los días


El amor es una pequeña muerte
Es el sarcófago esculpido de eternidad
Me muero junto con todas las tardes
Violando mi naturaleza ardente

A cada entardecer hay una realidad
De los días más sólos do que nunca
Como una caja de Pandora sin fondo
Y el desespero de la retina sin mundo 

Carmen Rojo


Poema etéreo


El poema invierte los sentidos
Entrelaza figuras contrarias
Quiere salvar invisibles obstáculos
Del corazón donde habitan las alas

Hay una sombra alrededor de la noche
Que escribe con gestos perturbados
Fija em su reflexo, pero extraño, hostil
El terror del sonámbulo despertado

Hago versos de mis soledades
Pues mis riesgos son hechos aéreos
Mismo que el escenario sea penumbra
Y la música fantasmas etéreos

Carmen Rojo

quinta-feira, 17 de março de 2016

Soledad sonora

El pensamiento que canta
La musica sofocada
Hace una soledad sonora
Para despoblar su morada

El claro silencio luminoso
De las memorias en conmoción
Es como bailar con el peligro
En el trayeto invisible del corazón

La falsa neutralidad del sueño
Es la flor de ese torbellino
Que con vientos dibuja la vida
Y apunta a un fin en desaliño

Cuando el alma es oscuro
Y el miedo expuesto, abierto
En la herida más visible que la belleza
El destino del cuerpo es descobierto

Carmen Rojo

terça-feira, 15 de março de 2016

Gaveta



Eu finjo que amo outras coisas para compensar a dor dos olhos que amanhecem diariamente sem saber dos teus. Invento felicidades que precisam ser numerosas para compensar o vazio de um único abraço. O sono que me contempla com tua ausência é o mesmo que se faz carrasco das horas e horas a mais que sobram para imaginar outro desfecho de nós, outro começo. O esforço que faço para disfarçar só não é maior que o ímpeto de sair voando para dentro do teu mundo, ainda que nele exista para mim, somente uma gaveta. Sei que as linhas da tua vida são menos tortas que as minhas, que passamos por promessas e enganos e que nosso tempo foi curto e ao revés. Cansei de trocar o fim pelos inícios, de me perguntar se ser nada é o começo de ser tudo ou se a verdade é a mistura do meu universo inventado e do teu ouro de tolo.

Ana Oliveira

quarta-feira, 9 de março de 2016

Trinta e cinco
















Não te ver
É mais que morrer
É jogar milho numa praça sem pombos
É o coração aos tombos
Esperando envelhecer

Não te ver
É dor de ferro em brasa
É o corte da asa
De um pássaro desenganado
É carne dilacerada

Não te ver
É menos que viver
É engolir o choro do samba
Num carnaval feito de quarta
É o cortejo do enterro

Pra que a colombina parta.

Anna Poulain







quinta-feira, 3 de março de 2016

Presságio





Corre menina!
Não vê que o amor passa
E que de morrer basta!?

Anna Poulain

A chuva dos olhos

Hoje, ao acordar, chovia. Não aquelas gotas cinza-gelo dos dias que lá fora, proclamam a chegada do outono, mas aqui dentro. Ao abrir os olhos, vi uma nuvem grudada no teto da minha casa e outra alojada no meio do meu peito. Então esperei que chovessem braços, que deles viessem mãos e delas surgissem afagos capazes de arrancar esse cansaço que a alma chama de saudade. Desejei que o chão revirado pela enxurrada se abrisse e raízes macias com cheiro de terra molhada subissem em minhas pernas, emaranhadas como um abraço deve ser, firme e recíproco. Mesmo com medo, ansiei que um vendaval com nome de moço chegasse, anunciado por uma brisa quente e que logo depois, fizesse meu coração levantar voo junto aos móveis e sonhos, num insano e mágico arrebatamento. Ao acordar, implorei ao vento para que abrisse meus olhos grudados pela chuva e pela dor de um sentir sujeito a morrer seco, sem palavras, desesperado e só. Porque até para maldizer o amor, tem que amar. 

Ana Oliveira