sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Consagração


Os vícios feitos de açúcar
E a doce mudez que beija
Com olhos castanhos, nectáreos
Molhada, a terra festeja

Afável noite que imagina
Méleos encontros inesperados
E a tenra nudez vertical
Voyer de corpos desordenados

Nectarina floresta insólita
Que abriga seres invisíveis
Espiona sátiros e ninfas
Na flama da atração frenética

Ana Oliveira

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Horas nubladas, noites de verão

Nas horas nubladas do dia
Tão mais simples o entreter
Mas quando a lua assovia
Amarrada ao fio da saudade
Cheia de bruma e ardor
Calmamente a dor anuncia
O gosto proibido do amor

Nas noites silenciosas de verão
De sonhos e suspiros engolidos
Surgem delírios do teu rosto
Desenhado nas réstias da parede
Ilusões esgotadas de soluço
Nutrindo de medo o segredo
Que sem zelo morre de sede

Ana Oliveira

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O amor que era de vidro






















Já não sei mais escrever sobre nós
Há uma lacuna na pele e no peito
Há também uma memória escassa
Que se perde na casa dos sentidos
Que sem cheiro, abraço ou canção
Realçam as cores do esquecimento

É como uma fina xilogravura
Que a mão do tempo não apaga
Mas empalidece suas linhas

Escrever sobre nós ainda é
A tentativa de nos resguardar
Dessa lua viúva de boca amordaçada
Desse indócil acaso de pés acorrentados

Ana Oliveira


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Dor de Florbela

À espera da alma sem algema
Num caixote de memórias vivas
Abrem mão do frescor primaveril
Tanto o amor, quanto o poema

O coração sombrio da flor
Na noite cálida e amarela
Verseja a vontade do verso
Tal qual a dor de Florbela

O devir travestido de sina
Permeia entre sombra e solfejo
Fadado a acariciar o tempo
Algoz do próprio desejo