sábado, 30 de janeiro de 2016

Sin la tuya


Sin la tuya
Mi vida es partida
De la cama sin habitación
Del prato sin mesa
Estrella sin punta
Poema sin libro
Retrato sin sonrisa

Sin el tuyo
Mi alma es doído
Dolor de amigo perdido
Del beso sin boca
Del mirar sin colorido
Del la lluvia sin sentido
Una estrada sin camino

Sin la tuya
Mi vida es muerta
Naufrágio sin vela
Cuadro sin mañana
Ida sin silêncio
El corazón sin calle
De los ojos sin ventana

Ana Oliveira

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Coração desordenado


Se bate as asas do peito
Espera que o olhar aproxime
Tudo em ti é desordem
Ainda que o verso rime

Se esconde o desejo do acaso
E sufoca a parca ternura
Tudo em ti ainda é desordem
Embora se arranque a amargura

Se corrige as horas tortas
Do balé das voltas do vento
Tudo em ti é sempre desordem
Mesmo que se pare o tempo.

Ana Oliveira

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Amanhecer


Eu vivi
E os anos passaram sem ti
Sem que, só porque
Eu falei
A poesia que veio do peito
Te levou, sem querer
Acordei
Do passado que te reconhece
Mas que esquece também

Ah, e amei...
Toda lua que cheia de choro
Noite dessas nasce de novo
Pra tão cheia explodir sobre nós

Eu corri
Desse medo do tempo que passa
Sem que a vida deixe seguir
Eu sorri
Pro presente que muito me custa
E merece só amanhecer
E pedi
Que partisse sem nenhuma volta
Repartisse pro mundo me achar

Ana Oliveira

Qualquer pedaço de saudade

















Depois de tanto
Te devolvo ao vento
Como se folha,
Pena ou asa
Como se de toda sede
Sem que vivesse ou matasse
Confusa comesse o tempo

De tão perto
Te vejo imóvel
Submerso num mar letárgico
Repartido dado inefável
Como se com pedra,
Gelo ou vidro
Golpeasse a frágil ternura

Longe de ti
É também de mim
Como se perdido da coragem,
inconsciência ou urgência
Subvertido e livre do impasse
Negasse a toda vontade
Qualquer pedaço de saudade

Ana Oliveira



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Tuya


Prefiero que vuelvan las horas frías
Donde el calor es más que verano
Días largos de casas cerradas
Velas revoltosas, camas encendidas

Despoblados son los meses calientes
Abren ventanas pero cierran corazones
Un fuego que repele si no deseado
Es la piel que quema el cuerpo sudado

Espero que me traigas el invierno
Aquel que durará cuatro estaciones
Guiado solo por el hambre que abraza
El beso embotellado, tinto y tierno.

Ana Oliveira

Papel de carta













O outro lado do papel
É como a manhã do amor
Veste o relevo de marcas
Que o tempo cobre, não apaga

A inocência da folha branca
Dedicada a aceitar a tinta
Leve, não conhece mágoa
Com o coração que acredita

Do rascunho, pouco se sabe
Apenas que concede idas e voltas
Arrisca sem ordem, nem regras
Tal qual amar sem trancar a porta

Ana Oliveira

Sem tempo, nem hora













O amor é coisa de sentir
Todo dia se quer entender
Toda hora se quer convencer
Mas não é isso de saber

É de se perder a hora
Junto ao relógio de pulso
Há de se largar a janta
De não molhar a planta 

Dos livros que vivem na estante
Suspira o que moram os versos
Do poema que não ensina
Também quer o que desatina

Há de se ganhar do tempo
Enquanto dele se esquece
É de se calar a boca
E de se espalhar a roupa.

Ana Oliveira





Soneto Aprisionado

















Presa a ânsia sem fôlego
Num caixote cheio de memorias
Joga a brisa úmida para fora
Quente e densa, vai embora

Pontas de traumas e recalques
Soltas pelo chão de madeira
Espetam bolhas de velhos sonhos
Libertando o grito da voz dos vícios

Paredes arranhadas pela agonia
Contam através do sangue à lembrança
Do tirano lastro que aprisiona a alegria

É a liberdade a alforria da beleza?
Será preciso mais que força e martelo
Para que não fujam as asas da presa

Ana Oliveira






domingo, 3 de janeiro de 2016

Sem

Solidão é o ventre seco e oco
A comida sem fome
A árvore sem passarinho
É madeira sem seiva
Teto sem lar, nem gente
Solidão é um não de repente
Sem aviso prévio
Sem mato nem gato
É a vida sem terceiro ato.

Luz cega, fogo frio


Não tenho mais medo do escuro
Nem da luz que brilha de cegar
Meu pavor é da desalma humana
Carregada de artifícios, ilusões

Onde estão os espíritos bruxuleantes?
As sensações inexplicáveis?

Deixo que as lâmpadas durmam
Enquanto os sussurros da cidade
Agem como suave sonífero
Amortecendo meus lábios frios

É como se todo receio
Tivesse se tornado insignificante
Ante ao veneno que paralisa o corpo
Enquanto penetra no que não é

O silêncio já não amedronta
As vozes que não se falam

Nenhuma força é tão miserável
E indiscreta quanto o amor
Nele, não há véu nem virtude.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Apenas rio






















Apenas porque rio, não julgue
O riso bate na porta pra entrar
Logo, não é verdadeiro
Esse que não pede é senhor
Um dono que vem e vai
Assim, sem perguntar
O porquê de tanto desejo

A ele damos tudo,
Tempo, sono, poemas
Deixamos que subtraia
O calor da face que sucumbe
Mas o teu...
Berra em meus ouvidos
Como quem diz: Aqui estou!
Até meu sangue voltar queimando
Para as pálidas rosas de antes 

Na dança conforme tua música
O coração ensanguentado
Tira a lágrima para dançar
No frenesi das cordas dissonantes
Que levam para onde bem querem
Meus loucos sentimentos por ti

Leio livros sem poder manter os olhos
Sobre as páginas que riem
Na amarga ironia do sarcasmo
Do meu  riso que permanecerá longe
Por um longo e triste tempo
Na solidão que se aninhou em mim

Contudo, ainda rimos
De tanto chorar

Ana Oliveira