quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A vida do poema

O poema nasceu do entalhe
Da imagem roubou o detalhe
E chorou no devir dos versos
Que imitam bons e perversos

Em cólera contou a poesia
Que do livro, partiria
E rumou para a estação
Travestido de coração

A metáfora no caminho encontrou
De uma vida tal qual a palma
E sem pedir licença adentrou
Na alegoria vestida de alma

Ana Oliveira




O humor da cidade

















A fragrância exala
Suas madeiras desbotadas
Levada pelas ventosidades
De saudades anacrônicas
Numa existência infernal
Das madrugadas insones
Calmamente mastigadas
Por um silêncio profético

A meia-luz interior das casas
Liberta a clandestinidade
Consagrada do culto ao prazer
Dos dias que ninguém jamais
Poderá deter ou adulterar
Desse cimento implacável
De uma cidade que transcende
Á carne, indiferente ao tempo

Carregando fardos de agonia 
Enquanto outros flutuam
Em venturas de amores lascivos
Este morredouro de esperanças
Ardente por cheiros e rostos
Carrega a multidão impetuosa
Pelas ruas que estilhaçam vidas
E ventos que embalam sonhos

Ana Oliveira

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O tempo





















O tempo é o diabo
Se arrasta feito trem carregado
Quando o dia é pesado
Quando a lida não para
Quando o choro não sara
Mas aí corre, desliza, sublima
As horas que não vemos
Os instantes que queremos
Os abraços que eternizamos
O tempo? É o diabo
Engana os amantes
Entendia trabalhadores
Zomba e chafurda
Da cara dos que pedem:
Só mais um pouco!
De alma
De calma
De ajuda
De vida.

Ana Oliveira

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O balé das horas

















Aprisionada e invisível como um fantasma
Sozinho em uma velha casa abandonada
Oro pelos medos dos meus pensamentos
Tenho segredos ternos e arruinados
Verdades perversas da estranheza da alma

A vida é o barato vazio da irrealidade
Uma noite profética que perturba a calma
É como beijar o etéreo no inferno
Balbuciando palavras sem sentido
É abrir as cortinas do delírio dos olhos

Sorrindo a dor com os lábios fechados
Meu corpo ausente de um ontem maculado
Roga às suas mães índias da América Latina
Que limpem seu rosto queimado e mutilado
Pelo balé das impiedosas velas dançarinas

Ana Oliveira