terça-feira, 18 de agosto de 2015

Recôndito



Segredos são vontades guardadas no fundo da gaveta do desejo. Sentimentos tímidos que preferem o anonimato, o estranhamento. O segredo do desejo é a espera. A secreta tardança que gira o mundo aos poucos, acariciando suas entranhas e embalando seus caprichos na inútil tentativa de dissuadi-lo do objeto escondido, desejado. Mas a fome do querer é impetuosa. Por isso, o segredo da espera é a distração. O delicioso devaneio da irreflexão, do alheamento voluntário que nos permite ludibriar até mesmo a tentação das confissões. E é no cochilo que o segredo devém mistério. Mistério é a magia do segredo. Andam em todos os cantos, debaixo das pedras, das camas, impressos nos olhos que riem do que ninguém supõe. Ocultos nas folhas brancas que denunciam os escritos arrancados. Manchas que querem ser adivinhadas através de suas cores e cheiros. São flores deixadas em caixas postais sem alcunha nem palpite. Pernas que conversam sob a mesa, bilhetes deixados em bolsos, abraços que procuram motivos para serem demorados. Mistérios são enigmas que querem ser desvendados, são as peripécias do segredo.

Ana Oliveira

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